terça-feira, 7 de junho de 2011

Um exemplo de Vida


Conheci Mãe Grossa, batizada Maria Porfíria, há 8 anos. Anciã Potiguara da Aldeia Forte, estava sempre com um leve sorriso nos lábios, os olhinhos atentos, os braços prontos para um abraço, uma bênção aos netos, bisnetos, tetranetos, sobrinhos de todas as idades. Crianças entravam e saíam de sua casa simples e alegre. Quando se dançava na oca, o simples toque do bombo a fazia vibrar. Cantava leves canções, balbuciava rezas, dedilhava o terço enquanto o olhar parecia vislumbrar um paraíso presente, futuro ou passado. Jamais dizia palavra grosseira, ou expressava reclamações. Satisfeita de viver, Mãe Grossa partiu esta semana para outro plano de vida. No dia 6 de junho, amanheceu de olhos fechados, rosto sereno. A aldeia se mexeu por inteiro. Aliás, as aldeias se mexeram, toda Baía da Traição se moveu para se despedir daquela que lhes deu um exemplo de sabedoria e tolerãncia. Quando me chegou a notícia, arrumei minha mochila costumeira e segui o caminho pra aldeia. O ritual de despedida durou 24 horas: entre rezas, leituras, gestos, visitas silenciosas, canções em ritmo de toré, com maracas, bombo e pífano, . Parentes chegaram de longe e de perto. Enquanto um grupo de mulheres sobrinhas, netas cuidavam da cozinha e davam assistencia a Manuela, que a assistiu por muitos anos. As filhas Nanci e Chiquinha pareciam desoladas, enquanto sabiam no fundo que a mãe estará presente para sempre. O discurso de D. Nanci, ao se despedir, foi taxativo: uma mãe perfeita, uma amiga perfeita, uma mulher sem defeito, paciente, consciente, fraterna, amorosa. A imensa geração que deixa, nos seus bem vividos 101 anos, terá a missão de dar continuidade a tantos admiráveis atributos de Maria Porfiria Santana Cassiano.

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